O Brasil é o país do chiclete com banana, como foi eternizado num samba de Jackson do Pandeiro. Mas até que ponto a mistura de informações, sotaques e culturas é positiva para uma criança?
A pergunta é feita por pais de alunos de escolas bilíngües, mas segundo estudiosos do assunto, não há risco de que a identidade cultural dessas crianças entre em colapso pelo simples fato de conviverem em mais de um universo lingüístico e sócio-cultural.
“Eles aprenderão brincadeiras, comemorações, histórias, lendas, poemas e músicas dos universos culturais do próprio país e dos países que se vêem representados pela escola. Isso não se transformará em conflito se a escolha da instituição tiver sido criteriosa, alinhada aos valores familiares e se a criança perceber que os pais valorizam ambas as línguas e culturas”, afirma Norma Wolffowitz-Sanchez, mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem.
No caso dos pais que têm pouca intimidade com a cultura e língua usadas na escola dos filhos, a orientação é para que legitimem o aprendizado da criança, mostrando que se interessam pelas novidades que ela traz e preservando os valores familiares e culturais brasileiros.
“Nas escolas pode parecer que uma cultura se sobreponha a outra, principalmente se a criança estiver em um programa de imersão total na língua internacional. Mas são os valores sócio-afetivos da família e a valoração das línguas e culturas pelos pais que influenciarão a formação identitária da criança e a construção de valores em relação à cultura brasileira e à de outros países”, explica Norma que encontra parceiros nessa defesa.
Entre eles, Helena Miascovsky, especialista em educação bilíngüe. Segundo ela, pesquisas importantes apontam que a criança bilíngüe observa, explora e vivencia o mundo tendo como base não apenas um referencial cultural, mas diversos referenciais que possibilitam que ela combine, transforme e crie novas formas de agir. Por isso, não há confusão ou choque cultural, mas sim uma ampliação de possibilidades e de conhecimento de duas ou mais culturas que se somam. Mais uma vez, a dica é para que os pais incentivem.
“É preciso valorizar o idioma de cada família, mas isso não quer dizer que assistir a filmes no segundo idioma não seja recomendado. Muito pelo contrário, assistir a filmes juntos, brincar, cantar no segundo idioma pode ser uma forma muito bacana de interagir com os filhos”, ensina Helena.